TEORIA x PRÁTICA – parte 2 (tempo estimado de leitura: 3 min.)
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E, de repente, fui promovido a Capitão e designado a montar uma nova tripulação para um Full Container, um dos melhores e mais novos da Companhia. Claro que o Embarcador (Crew Manning) era o que tinha a árdua tarefa de selecionar meus tripulantes. Cabia a mim apenas concordar ou não com as indicações; uma regalia.
O Embarcador, com quem tive a honra de trabalhar quando era Imediato sendo ele o Chefe de Máquinas, um amigo que eu tinha em alta estima, ligava para mim descrevendo o perfil e o histórico dos tripulantes escolhidos e eu dava minha aprovação. Ele tinha o cuidado de me alertar sobre os possíveis problemas que considerava relevantes de determinados tripulantes escolhidos.
Ele me conhecia bem e sabia que eu conseguiria lidar, “manobrar” com as situações que certamente ocorreriam.
Um fato que me marcou, foi a dificuldade relatada por ele de designar nosso Cozinheiro. Não havia nenhum Cozinheiro experiente no momento para embarcar comigo. Apenas um ex-Moço de Convés, recém habilitado a “despachar” de Cozinheiro.
O Embarcador me expôs a situação, praticamente descartando a minha aprovação, alegando que muitos Capitães não aceitariam essa indicação e que ele entenderia minha recusa. Aceitei a indicação.
Pontuei algo que me parecia óbvio: como um Cozinheiro que nunca embarcou iria se tornar experiente sem embarcar? Como desfazer esse paradoxo?
Logo que ele embarcou, tentou me impressionar sugerindo um almoço rebuscado. Descartei a sugestão, dizendo a ele que iria testá-lo; que me trouxesse um bife ao ponto e um ovo frito, com gema mole. O suficiente para saber se ele é ou se tornaria um bom Cozinheiro, com o devido cuidado e dedicação. Passou no teste e o tempo provou que era um excelente profissional.
Lembrei-o que, assim como ele, eu também era novo na função de Capitão e que estava sendo testado também. Teríamos que viver, mais uma vez, a dicotomia Teoria x Prática e achar o ponto de equilíbrio.
Meu estimado cunhado, Chefe de Máquinas de carreira exemplar, lembrou-me há pouco tempo o que havia aprendido com seu pai, meu sogro: “Profissional 100% teórico é um meio profissional; profissional 100% prático é um meio profissional”.
Ficou marcado na minha memória o fato de eu ter um ex-Moço de Convés que decidiu estudar, se aperfeiçoar e se tornar um excelente Cozinheiro.
Além da dicotomia Teoria x Prática, o desafio de inovar-se e enfrentar tudo outra vez me incentivou a continuar seguindo o exemplo desse Cozinheiro.
Manter, sempre girando, o ciclo Teoria, Prática e Inovação.
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)