NSPPN (tempo aprox. de leitura: 3 min.)
.
Poucos meses depois de ser contratado como Imediato, assumi a função, fixa, num navio “full container”.
Como de costume, comecei a produzir meus “aide-mémoires” para exercer a função de forma menos atribulada possível, haja vista minha total inexperiência na Marinha Mercante na época.
Um dos primeiros diagramas que senti necessidade de fazer, era das informações gráficas dos tanques de lastro daquele navio, contendo numeração das cavernas, capacidades volumétricas, posicionamento dos elipses, posicionamento dos suspiros, etc. Ele condensava visualmente numa folha A4 todas as informações referentes contidas nas plantas e diagramas do navio, de forma muito mais prática para mim. Imprimia várias cópias e as deixava para uso imediato na minha mesa de trabalho.
O gerente geral da companhia, numa visita ao navio, viu o diagrama em cima de minha mesa e perguntou o que era. Expliquei-lhe e aí, com desdém, ele disse: “Não serve para ‘porcaria’ nenhuma!” (troquei, aqui, o substantivo proferido, por questão de educação).
Algum tempo depois, fui convocado para ir à Hamburgo (Alemanha), substituindo o Imediato que conseguiu uma desculpa para fugir da docagem em pleno inverno alemão.
Durante a docagem, um vistoriador da antiga sociedade classificadora Germanischer Lloyd apareceu para inspecionar todos os tanques de lastro. Imediatamente peguei alguns diagramas para fazer anotações durante o “tour” pelos tanques, oferecendo algumas cópias para o vistoriador usar.
No final da exaustiva maratona, o vistoriador pediu mais uma cópia, sem rasuras, do diagrama que criei, colocou-o cuidadosamente na sua impecável pasta de documentos alemã com o brasão da GL e comentou, discretamente, que havia gostado da minha simples ideia.
Curioso, perguntou o que significava a sigla que eu havia criado e que estava como título do diagrama: NSPPN. Foi difícil para mim traduzir para o inglês a ironia do título “Não Serve Para ‘Porcaria’ Nenhuma”, mas percebi que ele havia compreendido plenamente. Despediu-se de mim, com um aperto de mão diferente do que ele havia friamente dado ao chegar na inspeção.
Fiquei satisfeito ao perceber que, mais essa vez, não fui negativamente influenciado por um comentário infeliz que tentava menosprezar minha iniciativa de, sempre que possível, facilitar meu trabalho ou o trabalho de outrem.
Facilmente, somos influenciados por posições contrárias que, aparentemente, parecem vir de pessoas mais experientes… aparentemente. Sem paixão, temos que analisar cuidadosamente as “opiniões” e não as confundir com pareceres técnicos abalizados.
.
Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)