NÃO SEI! (tempo aprox. de leitura: 2,5 min.)
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Quando ingressei na Marinha Mercante, comecei já na posição de Imediato, um fato que me informaram ser raro.
Estagiei num “full container” e, ao ser contratado, embarquei num graneleiro (próximo da docagem). Creio que essas explicações são suficientes para definir a pressão da situação em que me encontrava, profissionalmente.
Como várias outras profissões, muitos sabem que o ambiente “navio” deixa pouco espaço para erros. Costumo imaginar que o eletricista encarregado da manutenção de redes de alta tensão só erra uma vez.
Na situação em que me encontrava, adotei uma postura de prontidão, de total atenção a tudo e a todos, mas sem cair na armadilha de ficar na defensiva, evitando manter-me “low profile”, coisa que sempre combati na minha vida profissional, infelizmente (não estou recomendando aqui essa atitude particular e suicida a ninguém).
Sempre tentei afastar-me do que julgava cair na posição da mediocridade.
Tive que, rapidamente, aprender o máximo possível e cotejar com cautela todas as informações que me apresentavam. Parecia óbvio o caminho a seguir, mas acho que muitos passam por essa situação e muitos sabem que há armadilhas no caminho.
Ouvia atentamente a todas as orientações que os Comandantes se dispunham a compartilhar, evitando julgamentos precipitados, mas houve algumas vezes que descartei, sem pestanejar. Uma delas, foi de que um Capitão ou Imediato nunca deve dizer que não sabe determinada coisa.
Dissimular minha ignorância nunca fez parte de minha personalidade e sempre estimulei meus subordinados a, prontamente, assumirem a falta de conhecimento específico, o que não significa ficarem inertes diante da escuridão. Não me parece nem um pouco sensato negar a falta de conhecimento e correr o risco de ser tachado de dissimulado. Ou pior, por esconder a falta de conhecimento, comprometer de alguma forma ou gravidade uma situação.
Tenho, sempre em mente, a predisposição de dizer “Não sei!” e alardear que irei correr atrás da informação, indiferente ao risco de ser julgado imperfeito e de não ser reconhecido como um “babilaca”.
Nesse ponto, prefiro pensar que estou audaciosamente seguindo o paradoxo socrático, alegadamente citado por seu discípulo Platão: “Só sei que nada sei” (“ipse se nihil scire id unum sciat”).
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)