CAOS (tempo aprox. de leitura: 3,5 min.)
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Durante minha especialização em Hidrografia pela Marinha, vivi uma situação marcante.
Numa das primeiras aulas de Meteorologia, o Mestre (como chamávamos um professor na Marinha) começou a desenvolver no quadro o que chamei de “teoria das gotículas” (Nesse ponto, os especialistas em Meteorologia já perceberam minha falta de conhecimento no assunto!).
Normal naquela época da minha vida, diante do meu parcial desinteresse pelo assunto e a percepção de que o Mestre era daqueles que gostava de tergiversar, valorizando ao máximo seu conhecimento teórico, cochilei.
Quando acordei, não sabendo quantos segundos (ou minutos) haviam se passado, deparei com uma integral de uma matriz no quadro e um Mestre que não estava sabendo sair daquela arapuca que ele mesmo havia criado. Ainda sonolento, cometi o erro de interromper o prolongado silêncio “meditativo” do Mestre diante da integral e perguntei no que, exatamente, aquela matemática me auxiliaria no entendimento da previsão do tempo. Não contente com minha petulância, o Mestre foi me denunciar ao Comandante encarregado do curso. Fui chamado pelo mesmo para me explicar. Contando todo o ocorrido, o Comandante riu e me aconselhou: “Deixa o cara vender o peixe dele!” e me dispensou.
Por sorte, passei no curso de Meteorologia, apesar da perseguição que criei com o Mestre.
Ainda naquela época, interessei-me pela história do meteorologista Edward Lorenz, do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Diz a história que ele estudava modelos de previsão meteorológica por computador já nos idos de 1960.
Talvez, entediado como eu numa aula sobre gotículas, decidiu fazer um corte num modelo climático e introduzir manualmente as variáveis para analisar, daquele ponto, as curvas que se seguiriam. Depois de algum tempo observando o comportamento similar às curvas originais, deparou com uma situação inusitada. Como eu diante de uma integral de uma matriz após um cochilo na aula, as curvas da simulação estavam se comportando de maneira totalmente diferente do modelo original.
Após análise, descobriu que a diferença entre o número de casas decimais das variáveis introduzidas manualmente e as casas decimais usadas pelo computador era a origem das anomalias. Consolidava-se o estudo da Teoria do Caos.
A imprevisibilidade (caos) já vinha sendo estudada há algum tempo, por matemáticos como o francês Henri Poincaré (1854-1912), sendo dele a citação: “Pode acontecer que pequenas diferenças nas condições iniciais produzam alterações muito grandes nos fenômenos finais. Um pequeno erro na primeira produzirá um erro enorme na última. A previsão se torna impossível”.
A partir de Lorenz, popularizou-se a noção do Efeito Borboleta com a afirmação: “O bater das asas de uma borboleta no Brasil pode gerar um furacão no Texas!”.
Da Teoria do Caos, tomei para mim alguns conhecimentos que uso até hoje:
– Há ordem no caos, mesmo que eu não consiga entender ou visualizar de imediato;
– As coisas podem sair do controle e, geralmente, a causa não é externa;
– No trabalho ou na vida, pequenas negligências ou atos podem gerar grandes alterações; geralmente negativas nas negligências e imprevisíveis nos atos.
– Não cochile na hora errada! (essa dica veio do Mestre da DHN, e não do Lorenz)
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)