KINTSUKUROI (tempo aprox. de leitura: 3,5 min.)
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Kintsukuroi (reparo com ouro) é a arte japonesa de reparar uma cerâmica quebrada com laca espanada ou misturada com pó de ouro.
Também conhecida como Kintsugi (emenda de ouro), sua origem tem várias versões.
Uma delas diz ser originado quando o Shogun japonês Ashikaga Yoshimasa enviou uma tigela de chá chinesa danificada de volta à China para reparos no final do século 15.
Quando foi devolvida, o reparo consistia de feios grampos de metal aparentes, então ele solicitou aos artesãos japoneses para procurarem um meio mais estético de reparação. Os colecionadores gostaram tanto da nova arte que alguns foram acusados de deliberadamente esmagar cerâmicas valiosas para que pudessem ser reparadas com as costuras de ouro Kintsugi. O Kintsugi logo se associou aos vasos cerâmicos usados no Chanoyu (cerimônia de chá japonesa).
Quando, há muito tempo, me interessei sobre o assunto, percebi e me identifiquei com o aspecto filosófico por trás dessa arte.
Achei inimaginável a ideia de manter um objeto reparando-o, prolongado sua vida, mas com a intenção de realçar os danos vividos.
Difícil para o pensamento ocidental, li que o Kintsukuroi tem semelhanças com a filosofia japonesa de Wabi-sabi, a aceitação do imperfeito ou defeituoso.
“A estética japonesa valoriza as marcas de desgaste pelo uso de um objeto. Isso pode ser visto como uma razão para manter um objeto mesmo depois de ter quebrado e como uma justificação do próprio Kintsugi, destacando as rachaduras e reparos como simplesmente um evento na vida do objeto, em vez de permitir que o seu serviço termine no momento de seu dano ou ruptura.
Kintsugi pode se relacionar com a filosofia japonesa de “não importância” que engloba os conceitos de não-apego, aceitação da mudança e destino como aspectos da vida humana.
Wabi-sabi representa uma abrangente visão de mundo à japonesa; uma abordagem estética centrada na aceitação da transitoriedade e imperfeição.
Esta concepção estética é muitas vezes descrita como a do belo que é “imperfeito, impermanente e incompleto”. Uma idealização artística desenvolvida por volta do século XV no Japão, durante o período Muromachi, com bases nos ideais do zen budismo.
Estes conceitos estão representados na produção artística através do rústico, do imperfeito, do monocromático e do aspecto natural. Através do Wabi e Sabi, é possível o alcance do vazio da mente que traz tranquilidade. Wabi significa “quietude” e Sabi, “simplicidade”, e expressam-se através da vontade que os japoneses possuem por simplicidade e sutileza.”
Resumi, para mim, essa visão que passei a compartilhar, com o pensamento: “Quando algo ou alguém sofre danos, tem uma história e se torna belo, único, renovado.”
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)