ATITUDES (tempo aprox. de leitura: 3 min.)
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Quase completando dez anos de minha reforma como Capitão-Tenente na Marinha de Guerra, fui orientado pelo meu cunhado a fazer cursos no CIAGA para obter qualificação necessária para o curso de ATSN (Atualização de CCB e CLC).
Feito todos os cursos, estava pronto para cumprir o estágio embarcado de 60 dias para obter minha carta de Capitão de Cabotagem. Mais uma vez, meu cunhado me ajudou, agendando uma entrevista na Empresa de Navegação em que ele trabalhava.
A entrevista não começou bem, pois o gerente me disse que as experiências que teve com os Oficiais Mercantes contratados, oriundos da Marinha de Guerra, não eram as melhores. Respondi-lhe que não estava pedindo emprego, apenas o estágio necessário e que não me julgasse por suas experiências negativas. Consegui o estágio com a ressalva de que não seria contratado pela Empresa.
Os fatores positivos que me levaram a conseguir o estágio foram a indicação do meu cunhado, renomado Chefe de Máquinas da Empresa, o fato de que o gerente já ter contato anterior comigo, das vezes que fui à Empresa resolver pequenas fainas pedidas pelo meu cunhado (um “despachante” informal) e minha atitude diante das argumentações negativas do gerente.
Claro que o estágio não foi fácil para mim. Minha ignorância diante de vários aspectos da vida profissional de um Oficial da Marinha Mercante era clara para mim. Via apenas o local de trabalho, um navio, o fator comum das duas Marinhas.
Havia hostilidade de alguns diante daquele “intruso”, pretenso usurpador de vaga de um Oficial Mercante “raiz”. A ignorância deles sobre a formação de um Oficial de Marinha de Guerra também era gritante.
No meio do estágio, vi-me diante de uma Segundo Piloto e de um Primeiro Piloto, juntos, “explicando” para mim que aquele meu estágio de Imediato não me levaria a ser contratado como tal; que havia muitos Oficiais qualificados e desempregados na minha frente nessa fila. Eles não sabiam que essa condição já estava pré-estabelecida pela Empresa.
Para encerrar o “ataque para me colocar no meu devido lugar”, perguntei-lhes quanto ganhavam para serem Segundo Piloto ou Primeiro Piloto. Respondi-lhes que, por aqueles salários, faria tarefas bem mais árduas do que eles mostraram como suas rotinas, caso fosse contratado nas suas posições. Esses oficiais desembarcaram na troca da tripulação e eu continuei meu estágio, dessa vez com uma tripulação bem menos hostil.
Pouco depois de completar o estágio, desembarcar e receber a certificação de Capitão de Cabotagem, fui prestar mais um favor ao meu cunhado, dessa vez como “motorista” que o levaria para casa no desembarque. Fui a bordo, junto com a gerência que estava visitando o navio e muitos tripulantes ficaram contentes, pensando que eu estava embarcando, contratado.
Sem querer, fui chamado a resolver pequenos problemas de bordo por alguns tripulantes. Meu cunhado viu, riu e chamou atenção da gerência do meu “trabalho voluntário”. Fui contratado como Imediato.
Certamente, não fui contratado pela experiência profissional, mas pelas atitudes.
Guardo essa experiência e aconselho, aos que me consultam, a devida importância que dou às atitudes.
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)