DESAFIOS DE SER UM CHEFE (tempo aprox. de leitura: 3 min.)
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“Alguns chefes são considerados grandes porque lhes mediram também o pedestal” Sêneca
Já li e vejo muita coisa escrita sobre liderança. Tema fascinante e importante para mim, mas que achei, por vezes, controverso. Explico.
Vejo muitos textos que tentam diminuir ou distorcer a função do chefe para dar ênfase à importância de ser um líder. Uma versão quase romantizada, onde ser chefe é tratado como um estigma a ser combatido. Um “pecado original” da gestão, que deve gerar sensação de culpa aos que exercem a função de chefe, criando até o absurdo de se evitar, ultimamente, o uso do termo fora do meio naval.
Lembro-me de ter sido “convidado” certa vez a fazer um curso de liderança na companhia de navegação que trabalhei, onde todos os Comandantes e Imediatos iriam participar nos seus períodos de desembarque.
Os palestrantes, bem intencionados, mostravam conhecer bem o tema (em teoria). Acompanhei atento à maior parte das explanações e tratei de adaptar, em minha mente, as teorias ao meu ambiente de trabalho.
O curso ia tranquilo até o momento em que ponderei sobre uma afirmação radical do palestrante sobre NUNCA dar uma ordem sem o devido “debate” com os subordinados. Um requisito primordial, para eles, na construção da liderança. O problema, claro, foi o alerta na minha cabeça do uso da palavra “nunca”.
Exemplifiquei algumas situações de manobra onde não cabiam ponderações ou debates. Situações de extremo dinamismo e perigo no meio naval em que até o tom de voz mais alto deve ser entendido como urgência, ao invés de haver um policiamento de não ferir os mais “sensíveis”.
Expliquei, ainda, ter vivido a situação de passar o primeiro ano na empresa embarcando como Imediato temporário (Coringa) em vários navios e por pouco tempo, o que me tornava um desconhecido da tripulação. Um chefe sem chance de construir o mínimo de condições de ser um líder que, no meu ponto de vista, requer certo tempo. Mal dando para ser um bom chefe e contando com a sorte, temperança e sensatez para sobreviver a essa situação de roleta russa.
Claro que os demais Comandantes e Imediatos presentes no curso concordaram e me apoiaram, mas os palestrantes não gostaram muito da quebra do ambiente harmonioso, zen, sem discórdia e sem contextos adversos às suas teorias ideais e tons amenos que eles tinham planejado para o curso e que eu quebrei.
Eles poderiam ter aproveitado a “deixa”, saírem do script do curso e começarem a explicar os perigos da existência de um “líder negativo”.
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)