O 100% INALCANÇÁVEL (tempo aprox. de leitura: 2,5 min.)
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Quando era um jovem Segundo Tenente a bordo do CT Santa Catarina, vivi uma cena inesquecível.
No auge da minha estressante primeira inspeção de CIAsA (Comissão de Inspeção e Assessoria de Adestramento), já tendo passado milagrosamente incólume por todo o rigor imposto pelo Inspetor (por dias!), estava sendo testado no aparente último item de sua infindável tortura: procedimentos na Guerra NBQ (Nuclear, Biológica e Química).
Cansados, sentei por um momento em silêncio antes de demonstrar meus parcos conhecimentos do uso de trajes de proteção, procedimentos na estação de descontaminação, etc. Nesse instante, não resisti em ousadamente perguntar se ele iria, realmente, continuar com a simulação, já que estávamos num navio de 1943, mal adaptado para a realidade dos conceitos de Guerra NBQ. Parecia-me totalmente fora da realidade; exagerado. Consciente, o inspetor “aliviou” muito essa avaliação final.
Não fora a primeira vez nem a última que experimentei a desproporcionalidade, o exagero, a fuga da realidade dos critérios formulados. Tendemos a acreditar que os critérios apresentados são a expressão da realidade absoluta, alcançáveis em sua totalidade.
Esquecemos de ponderar a objetividade porque também desejamos a completude.
Essas ponderações vieram à minha mente nesse final de semana, durante um comentário da Instrutora do curso de Sistema de Gestão Antissuborno (ISO 37001), quando ela citou um caso de uma empresa que tinha apresentado a ela a meta de alcançar 100% a avaliação de riscos antissuborno. Simples assim.
Ela ponderou que essa avaliação demonstra certo despreparo e falta de compromisso com a realidade, além da falta de noção da necessidade de avaliação cíclica, conceito basilar das Normas ISO. Afinal, atingindo 100% as avaliações de risco, pouco ou não necessitaríamos do Ciclo PDCA.
Inevitável, para mim, não elocubrar essas experiências e associar a alguns conceitos lacanianos, onde vivemos em busca do inalcançável, do irreal que move nossos desejos de continuar. Se tivermos objetivos alcançáveis, rapidamente surge um vazio, uma angústia que tende a nos frustrar e criar novos objetivos.
Lacan descobriu o PDCA!
. Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)