OBJETIVO (tempo aprox. de leitura: 2,5 min.)
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Na minha época de entrada na Escola Naval, nós calouros passávamos um mês de longa e sofrida adaptação, mesmo para os oriundos do Colégio Naval, supostamente já adaptados a alguns aspectos da vida acadêmica naval.
Após esse período, logicamente estava ansioso para minha primeira licença; passar um fim de semana junto aos meus pais e descansar, profundamente.
Hora de caprichar no uniforme, o “Chiquinho”. Fivela, platinas e sapatos brilhando, calça e camisa sem amassados, quepe limpo e barba feita. Tudo perfeito para passar na inspeção e ser liberado no “reunir licenciados”. Tudo perfeito, exceto desconhecer a intenção malévola do veterano que faria a inspeção.
Não tendo nada para me barrar, passou o dedo indicador na minha nuca e disse, com um sorrisinho no canto da boca: “cabelo fora do artigo!”.
Atordoado, saí da formatura em direção à barbearia. Lá esperei minha vez e, ao sentar na cadeira do barbeiro, o Sargento perguntou o motivo de estar ali, já que não havia irregularidade no meu cabelo, sempre bem cortado. Aflito, pedi-lhe que baixasse um pouco mais o cabelo porque não queria ser barrado de novo na minha licença.
Aguardei o segundo toque de reunir licenciados e o mesmo veterano passou de novo o dedo no meu cabelo e disse: “ainda não está bom!”. Voltei à barbearia e fui ao encontro do mesmo Sargento, que me atendeu bastante contrariado. Respondi-lhe que havia percebido a intenção do veterano de me causar desequilíbrio, atrasando a minha licença. O Sargento não tinha muito o que fazer no meu cabelo.
Pela terceira vez, o veterano não me liberou. O barbeiro explodiu e queria ir tomar satisfações com o Aspirante, o que seria um escândalo. Acalmei-o e friamente pedi que passasse “máquina zero”, o que ele me respondeu que não faria porque não era permitido. Respondi-lhe que não seria por causa do cabelo que eu deixaria de ir para casa ou cederia à pressão psicológica do veterano.
O barbeiro passou a máquina (não foi a “zero”, acho) e, assustado pela minha loucura, o veterano me liberou a licença.
A consequência da semana seguinte na Escola Naval? Quase fui punido por ter meu cabelo “fora do artigo”, careca, mas minha defesa foi convincente em mostrar que agi com clareza de objetivo e meios.
Guardo essa pequena recordação para me lembrar que devemos, sempre e sem hesitar, eliminar os obstáculos que nos impedem de alcançar nossos objetivos, absorvendo as inevitáveis consequências.
Um tema que pode parecer clichê, mas que percebo ser importante lembrar (lembrar-me) de tempos em tempos.
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)