“PEQUENO” DETALHE (tempo aprox. de leitura: 3 min.)
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Lembrei-me, essa semana de um acontecimento marcante para mim: a falha surreal que causou prejuízo total de uma missão da NASA.
Em 11 de dezembro de 1998, a NASA lançou o Mars Climate Orbiter (MCO), uma sonda espacial de 638 kg cujo objetivo era estudar o clima marciano. No entanto, em 23 de setembro de 1999, quando a sonda fazia a manobra de inserção na órbita de Marte, a comunicação com a sonda foi perdida. A conclusão imediata foi de que a sonda se aproximou demais do planeta, sendo destruída pelo atrito na entrada da atmosfera ou resvalou e se perdeu no espaço. Um prejuízo de 327,6 milhões de dólares!
Os relatórios produzidos posteriormente para entender os motivos do acidente determinaram que a causa principal foi o uso de sistemas de unidades conflitantes. Os softwares utilizados pela equipe de controle na Terra forneciam dados no sistema de unidades usuais do Estados Unidos (Sistema Inglês) enquanto que a sonda utilizava unidades do Sistema Internacional de Unidades. Como resultado, instruções erradas foram enviadas para a sonda.
Um dos agravantes foi que a NASA detectou que a empresa contratada para fazer o sistema de software da missão (Lockheed) não atentou às especificações do uso do Sistema Internacional de Unidades. A NASA também se responsabilizou pelo acidente, apontando falhas em não ter feito checagens e testes que teriam alertado para a discrepância.
Outro agravante foi uma série de falhas de comunicação por parte dos integrantes da equipe que utilizaram meio inadequado (e-mail) ao detectarem discrepância de dados durante o trajeto da sonda.
Tenho muitos episódios da minha vida profissional e pessoal que esse relato me faz recordar e me alertar sobre a lição que deve ser aprendida.
Apenas para ilustrar, quando ainda era um jovem Aspirante na Escola Naval, decidi pretensiosamente fabricar na Oficina de Mecânica um novo pé de mastro de minha prancha de windsurf. Afinal, qual dificuldade teria em tornear e fresar uma junta cardan? Devidamente fabricada, fui, animado, testar minha “obra-prima”.
Prancha na água, no primeiro vento forte que peguei, tomei um tombo. O pé de mastro havia se rompido, não no corpo da junta cardan, mas nos pinos (de alumínio!!!) que eu, absurdamente coloquei, ignorando as aulas de resistência dos materiais e o conceito de tensão de cisalhamento. Tive que retornar remando, exausto, do meio da baía da Guanabara.
A lição, difícil de aprender, está na citação atribuída a Nietzsche: “Der teufel steckt im detail.” (O diabo mora nos detalhes).
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)