PINK FLEET (tempo aprox. de leitura: 2,5 min.)
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“IN THE OLD DAYS, SAILORS CREATED AN EXPRESSION TO NAME THE SHIPS THAT WERE RETURNING BY DUSK, TO THE DOCKS, WITH THE REFLEXION OF THE SUN HITTING THE BOAT’S HULL: PINK FLEET.”
(OS ANTIGOS HOMENS DO MAR CRIARAM UMA EXPRESSÃO PARA OS NAVIOS QUE RETORNAVAM AO PORTO NO CAIR DO SOL, COM OS ÚLTIMOS REFLEXOS DO DIA BATENDO EM SEUS COSTADOS: PINK FLEET.)
Sim, fui o último Comandante do “Spirit of Brazil VIII”, navio de passeio turístico do Eike Batista, mais conhecido como Pink Fleet.
Aceitei o convite de um amigo, ex-comandante e ex-gerente desse belo navio que me indicou para essa missão que sabia que não seria nada fácil.
A minha contratação ocorreu no Edifício Serrador, antiga sede do grupo EBX, no centro do Rio de Janeiro. Na época, fazia parte do ritual de admissão assistir um vídeo sobre a grandiosidade e abrangência de atuação da EBX, descrevendo as empresas que faziam parte do grupo, onde o Pink Fleet era uma delas.
A quantidade de pessoas que circulava naquele edifício impressionava, mas eu já sabia que o mau tempo estava se formando.
Assumi o comando sabendo que o meu principal papel era mitigar os problemas existentes da melhor forma possível, sem a ilusão de restaurar a opulência e glória do Pink Fleet.
Vi, pouco a pouco, a diminuição do trânsito de pessoas no lobby do Serrador e nos corredores dos andares, bem como o aumento das mesas vazias nos departamentos. Vi a apreensão e o desânimo dos que ainda estavam trabalhando ali.
A bordo, passei a preparar a tripulação para o fim que se aproximava. Eles estavam cientes e, como consolo, lembravam e me contavam estórias dos tempos de glória vividos no Pink Fleet.
No último dia, notadamente sem coragem de consumar o ato, deram-me a incumbência de reunir a tripulação e informar a demissão, que ocorreria após nós levarmos o navio para um estaleiro. Estranharam a forma e a tranquilidade que conduzi a situação, bem como a reação dos tripulantes, que não sabiam já estarem devidamente preparados. Pediram, por fim, que eu permanecesse na empresa por mais algum tempo. Lembrei-lhes, contemporizando jocosamente, que a tradição exige que o Capitão é o último a abandonar o navio.
Naquele cair do sol, os últimos reflexos rosáceos no costado do Pink Fleet nunca mais foram vistos na Marina da Glória.
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)