POTÓ (tempo aprox. de leitura: 2,5 min.)
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Tinha pouco tempo de embarque no NHi Orion, estávamos atracados em Santos e eu iria fazer a minha primeira poligonal topográfica. Estava entusiasmado.
O Comandante, sutilmente, decidiu que iria me acompanhar na subida ao Morro Tejereba (Guarujá) com a desculpa de que estava com saudade do trabalho de campo de uma missão hidrográfica. Naturalmente, não estava seguro de que eu tivesse o domínio do uso de um teodolito e que faria as medições angulares e de distância corretamente.
Às cinco da manhã, com a picape já pronta para partir, equipamento e equipe a postos, o Comandante aparece para embarcar vestindo um abrigo esportivo padrão, calça e agasalho de malha azuis, camiseta e tênis brancos. Fazia muito calor, já naquela hora da manhã.
Ele me dá um “bom dia” animado e me pergunta se eu estava certo de que iria apenas com aquele short e camiseta (uniforme tfm padrão). Respondi-lhe, sorrindo, que estava “safo”.
Já no topo do morro, teodolito montado, comecei minhas medições. Não demorou muito, comecei a ser picado impiedosamente pelos insetos, a ponto de começar a me sentir mal. Nesse momento, o Comandante ordenou que eu passasse a faina de medição para o Cabo que me acompanhava.
Do nada, aparece um senhor, nativo da região, para me “socorrer” com um frasco de desodorante, contendo uma mistura de cheiro horrível para usar como repelente. Disse que era cachaça com óleo de cozinha. Duvidei, no alto da minha arrogância juvenil, de que aquela mistura horrível faria algum efeito. Funcionou, mas eu já estava bastante prejudicado pelas picadas.
Inexplicavelmente, eu era o único naquela situação, com sinais de febre muito alta quando já estávamos descendo o morro, a caminho do navio. Cheguei muito mal a bordo e o Comandante chamou o Enfermeiro para me atender no camarote. Ele me medicou e eu “apaguei” até a manhã do dia seguinte.
Ao acordar, o Enfermeiro me deu mais medicamentos e me informou que eu, provavelmente, fui “vítima” de formigas potó, inseto que espalha ácido quando pressionado. Subi para o café da manhã, ainda desorientado e com muitas manchas marrons por todo o corpo.
Com aquele aspecto constrangedor de vaca malhada, ainda tive que ouvir o Comandante zombando de mim, falando com os demais oficiais à mesa: “Acho que fui picado aqui na mão! Não! Não! É apenas uma sujeirinha de café!
Como dizia meu sogro, aprende-se pelo amor ou pela dor.
Nunca, nunca menospreze a experiência! Seja de um Comandante ou de uma pessoa humilde que cruzar o seu caminho.
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)