SALÁRIO SALGADO (tempo aprox. de leitura: 3 min.)
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Recebi de um amigo o trecho de um livro que ele está lendo.
Sempre espirituoso, no sentido completo dessa palavra numa consulta em um dicionário: “que é inteligentemente engraçado; que é vivaz, sutil, preciso e provocador do riso.”
De origem na Marinha Mercante, temos vários conhecidos em comum, tanto na Marinha de Guerra como na Marinha Mercante.
Guardo sempre boas lembranças de nossos encontros, regados a excelentes vinhos, charutos e longas conversas, sempre interessantes e de alto nível.
Segue o trecho do livro que ele me enviou:
“A marinhagem era um problema: “A paga que recebiam era somente de oito mil réis por mês, enquanto no serviço mercante, dezoito mil réis era o preço corrente para bons marinheiros”. Aqueles homens eram o refugo da Marinha Mercante. E Thomas Cochrane, que tanto se preocupava com a má remuneração de seu pessoal, ruminava: “A pior sorte de economia – a economia falsa – tinha se estabelecido na administração naval do Brasil”. Thomas Cochrane sabia que, também na Inglaterra, as condições a bordo eram duras, e em tempo de guerra os soldos eram mais baixos do que na Marinha Mercante. Daí a importância do prêmio das presas. Sem elas, o resultado eram os motins e as greves de marujos, velas arriadas e comércio ou defesa debilitados.”
(“A viajante inglesa, o senhor dos mares e o Imperador na Independência do Brasil” – Mary Del Priore)
Por ter trabalhado nas duas Marinhas, sei que esse assunto ainda é chorosamente lembrado, principalmente pelos integrantes do lado “prejudicado”.
O erro da comparação reside no Silogismo (Falácia): “Quem é de Marinha é bem remunerado; Marinha de Guerra é, obviamente, Marinha, logo, quem é da Marinha de Guerra é bem remunerado.”
Divagando (muito!), na etimologia da palavra “salário” encontramos a palavra “sal”, que nos leva à palavra “mar”, que nos lembra o ambiente de trabalho das Marinhas, … e as comparações param por aí.
Conheço muitas pessoas que não sabem distinguir o que é ser de Marinha de Guerra e de Marinha Mercante.
Conheço muitas pessoas das Marinhas que não conseguem correlacionar o valor de seus salários à origem dos mesmos. Dinheiro público, vindo do governo e dinheiro privado, vindo da comercialização de bens (como o precioso petróleo).
Diante de toda essa confusão histórica, ainda temos que conviver com a desonestidade intelectual que reside nas conclusões mal-intencionadas, mistos dos conceitos filosóficos de Falsa Analogia e Argumento Autoritário: “O Mercante é um turista remunerado” e “Militar não trabalha”.
Mas isso é outra história…
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)