TEORIA x PRÁTICA – parte 1 (tempo aprox.. de leitura: 3 min.)
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Começo essa lembrança com o cuidado de não citar nomes e alguns dados para não causar efeitos indesejados. O único efeito desejado é exemplificar meu ponto de vista e conceitos envolvidos.
A Empresa contratou um Oficial da Marinha Mercante argentino e o embarcou no navio em que eu estava imediatando. Apesar de ser mais “experiente”, assumiu interinamente a função de Segundo Piloto.
Passados alguns portos e algumas manobras de atracar e desatracar, eu e o Capitão não estávamos contentes (sendo eufemista e cuidadoso com as palavras) com a condução das manobras da popa, sempre causando atrasos e incidentes desde que o tal Piloto assumiu. Comuniquei ao Capitão que iria apurar as causas.
Mesmo conhecendo bem os marinheiros, sua eficiência e grande experiência nas manobras, chamei para conversar o Piloto, perguntando o porquê dos incidentes das manobras. Ele culpou os marinheiros, que não obedeciam a seus comandos de maneira adequada.
Em seguida, chamei o marinheiro mais antigo, um senhor que eu respeitava, admirava e era extremamente “safo”, fiel, respeitoso e espirituoso, além de termos um bom relacionamento. Perguntei-lhe o que estava acontecendo nas manobras da popa.
Sorrindo, ele contou que o Piloto, logo na primeira manobra, não aceitou as opiniões do grupo, de como eles faziam as manobras e enfatizou, alterado, que eles deveriam fazer como ele ordenasse. “Simplesmente passamos a acatar as ordens, sem ponderar”, disse.
Levei ao Capitão essas informações e lembramos do dia em que eu fui fazer uma atracação na popa, substituindo em emergência o Segundo Piloto que passou mal no momento. Reuni rapidamente a equipe e pedi que me ajudassem a “acompanhar” o ritmo afinado deles, “cantando” cada passo da manobra para meu discernimento. Postura que faltava ao “experiente” Piloto argentino.
Como oriundo da Marinha de Guerra, alguns “vapozeiros” faziam questão de me lembrar que eu era novo na Marinha Mercante, o que me fez criar o bordão “Não confunda Imediato novo com Imediato burro!”. Por não me considerar burro, sempre fiquei atento às diferenças, por vezes abissais, entre conhecimento e prática.
Vivi vários episódios, dentro e fora das Marinhas, que me mostraram a importância de identificar essas diferenças; quando procurar mais conhecimento, mais capacitação técnica, mais experiência ou criar, eu mesmo, “guias práticos” e “aide-mémoires” para facilitar meu trabalho e dos que anseiam diminuir as diferenças entre formação acadêmica e prática.
Assim como eu, muitos pensam da mesma forma e são com eles que procuro trabalhar e me associar; minha atual realidade de vida e trabalho no IMAR – Instituto Mar Futuro.
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)