TRANSIÇÕES (tempo aprox. de leitura: 2,5 min.)
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Não é esse o primeiro artigo que comento aspectos de minha passagem da Marinha de Guerra para a Marinha Mercante.
Lembrei-me do final de meu estágio embarcado, onde deveria me apresentar ao CIAGA, levando um extenso trabalho de conclusão para ser avaliado e aprovado, dando seguimento ao meu processo de obter meus documentos de Capitão de Cabotagem.
Para minha surpresa, o esmerado trabalho foi aberto numa página qualquer, na minha frente, enquanto o avaliador se dirigia a mim, falando que “certamente o trabalho estava ótimo e que não ocuparia mais “meu” tempo”, fechando-o segundos depois e dando parabéns ao meu esforço. Saí dali com sentimentos contraditórios de alegria, tristeza e alívio.
Alegria pela etapa vencida, tristeza pelo menosprezo ao meu esforço em produzir um trabalho minucioso e aliviado por não terem lido a conclusão, onde relatava a precariedade e anacronismo do curso de ATSN que realizei, bem como a falta de devida importância ao estágio embarcado. (Sim! Sempre tive o defeito de cometer “sincericídios”.)
Comentei, em outro artigo, meus encontros na DPC com o saudoso Almirante Ortiz, onde ele me indagava/instigava sobre assuntos como esse, pedindo minha opinião e posição sobre a dispensa do estágio embarcado; impensável dispensa de familiarização da complexidade vivida pelos tripulantes da Marinha Mercante. Atesto, um Oficial da Marinha de Guerra quase nada sabe sobre as rotinas dos embarcados na Marinha Mercante, salvo, claro, alguns que se dedicaram a esse tema.
Não aponto demérito nesse desconhecimento. A complexidade da vida de um Oficial da Marinha de Guerra não permite o “luxo” de se debruçar nos pormenores da Marinha Mercante, bem como já escrevi sobre o total desconhecimento dos Mercantes sobre a Marinha de Guerra.
Vivi, no estágio e no início da minha passagem na Marinha Mercante, a arrogância e o deboche de alguns que não se contiveram em demonstrar a total ignorância sobre o tema e o inadequado tratamento à minha pessoa.
Mas, como diz o ditado, “os cães ladram e a caravana passa.” Sabia das dificuldades que enfrentaria na transição e não parei para “tropeçar” nesses obstáculos que agora descrevo.
Faço parte de um não tão grande grupo de pessoas que passaram pelas Marinhas, respeitando-as e valorizando-as.
A “culpa” de tudo é o mar, simples, que não nos julga nem nos alerta de que somos nós que esquecemos da decisão de passar por ele e fazer dele nossas vidas.
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Leonardo Seixas (Diretor de Marketing)